Em tempos de escassez de recursos, muita gente pensa em como trabalhar de forma mais eficiente. No texto de hoje vamos desfazer o mito da multitarefa, no sentido de fazer mais de uma ação ao mesmo tempo.
Brasília, 18/10/21 | Tempo de leitura: 3min26s
Não é de hoje que avaliamos muito mal as nossas próprias capacidades, principalmente aquelas relacionadas ao volume de assuntos que podem ser tratados por uma pessoa ao mesmo tempo. Por conta do ambiente competitivo que todos nós vivemos, é necessário inflar certas supostas capacidades especiais na expectativa de manter o seu lugar ao sol, intacto.
Um destes supostos talentos únicos, seria o de fazer duas ou mais atividades ao mesmo tempo, aliás quem se atreve a participar de uma entrevista de trabalho e por descuido, revela que faz bem, apenas uma atividade por vez, pode ser excluído logo de cara do processo seletivo.
A cultura da multitarefa está incorporada a nossa cultura, mas são realmente poucas as pessoas que se dedicam a estudar o comportamento humano e as reais capacidades cerebrais. Temos limites humanos, e quando se pede uma ação sobre-humana, se pede também para se apresentar um engodo. Acaba que na situação de uma disputa concorrencial, se proferindo um discurso cheio de glórias infundadas, que muitos gostam, é a beleza do engodo em ação.
No texto de hoje vamos tratar de desmistificar esta suposta capacidade multitarefa que alguns alegam possuir, como se seres iluminados fossem. De antemão, antes de apresentar minha tese, já serei taxativo: Não existe capacidade humana multitarefa.
Ninguém consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo
Por mais que o discurso esteja presente em nossa cultura, é impossível para o ser humano fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo, sem perdas sérias de eficiência. É uma limitação estrutural do nosso cérebro, estudada em laboratório, é um dado comprovado cientificamente.
Citando um caso concreto, para quem dirige veículos, a questão do uso do celular durante a operação de veículos é comprovadamente a causa mais comum de acidentes, mesmo entre os motoristas mais experientes, que trabalham diariamente fazendo transportes de veículos.
Claro que existem motoristas que dirigem e acompanham ao mesmo tempo o conteúdo de seus celulares, e chegam ao seu destino sem nenhuma ocorrência, da mesma forma que existem também cozinheiras que preparam o jantar e assistem o último capítulo de sua série preferida, sem queimar o arroz.
O que estamos tratando aqui é sobre as chances de ambas as atividades terminarem no mais alto nível de eficiência, incluindo na conta todos os riscos. Tudo isto traduzido para custos. Quem executa duas ações ao mesmo tempo, reduz a sua eficiência em 84%. Logo, você executa a atividade A com eficiência de 8% e a atividade B com 8%.
O restante do desperdício, é o tempo que a sua mente leva para se lembrar do que você estava fazendo entre uma atividade e outra, contextualizando a situação e os passos seguintes necessários a serem feitos.
Então fica óbvio que ninguém executa mais de uma atividade ao mesmo tempo, você alterna entre a execução das atividades ao longo do tempo. Perdendo eficiência em ambas, e quando querido leitor, você se torna menos eficiente, significa que perdeu dinheiro.
Quem faz duas coisas ao mesmo tempo, não faz nenhuma
Quem estudou com profundidade as capacidades humanas e a relação delas com a eficiência de produção foi a empresa Toyota, que até o presente momento detém a glória de ser a fabricante de veículos mais eficiente do mundo. Taiichi Ohno, é o mestre por detrás da criação do sistema Toyota de produção. Ohno definiu em seu estudo três tipos de desperdícios, que são “muri” desperdício causado pela irracionalidade, “mura” o desperdício causado pela inconsistência e “muda” desperdício causado pelos resultados.
Os termos utilizados estão todos na língua japonesa. Obviamente que este texto não irá se aprofundar a respeito do estudo, deste prodigioso pensador japonês sobre aplicação de técnicas de eficiência, mas se você se interessar pelo assunto, amplie seus conhecimentos, existe farto material disponível para estudo na internet, eu mesmo recomendo procurar os livros como fonte de informação primária, por uma questão da qualidade da informação.
A aplicação de métodos comprovados de eficiência alinhado com a correta percepção das capacidade humanas, gera uma força de eficiência avassaladora. É onde se separa os profissionais dos outros, enquanto uns que vomitam suas supostas capacidades sobre humanas, são justamente os mesmos que entregam os menores resultados, com frequência, nenhum.
Por conta do meu estudo para redigir este texto, acabei entrevistando Marco Aurélio, diretor de uma empresa de mudanças em Águas Claras, uma cidade satélite do Distrito Federal, sobre seus métodos de eficiência, e ele me revelou o óbvio, “quando a atividade de embalamento da mudanças se inicia, só acaba na última caixa fechada.”
Isto significa, que durante a execução do serviço de mudança, toda a equipe se dedica a uma atividade por vez, até a sua completude, quando se termina o processo de embalagem, tudo está embalado, nada fica para depois, atingindo a tão desejada eficiência de 100%.
Experimente aplicar hoje mesmo, na sua atividade laboral a completude da atividade proposta, antes de passar para a próxima atividade, e para servir de parâmetro de completude, se o seu trabalho não está pronto para gerar um valor imediato ao seu cliente, então não está ainda completo.
Ronaldo Luis Gonçalves
Pai, Marido, Escritor, Engenheiro de Software, Empreendedor Digital atuando no mercado de marketing, é também redator de diversos sites na internet.