8 de outubro de 2024

Câncer de Cabeça e Pescoço pode chegar a 90% de cura, mas tem falta de diagnóstico precoce como grande barreira

Cerca de 48% dos casos são detectados tardiamente no Brasil. Movimento “Julho Verde” busca conscientizar a população sobre os diferentes tipos de câncer de cabeça e pescoço, e aumentar assim as chances de prevenção e cura

Todo ano, no Brasil, aproximadamente 41 mil pessoas são diagnosticadas com cânceres na cabeça ou pescoço, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Para 2022, são esperados mais de 36 mil casos. Quando diagnosticado e tratado deforma precoce, as chances de cura do paciente podem chegar a 90%, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia e Pescoço.

O problema é que nem sempre isso acontece. Cerca de 48% dos casos no país são detectados tardiamente, o que traz prejuízos à eficácia do tratamento. É o que explica a Dra. Simone Elisa Dutenhefner, cirurgiã de cabeça e pescoço do Hospital Santa Catarina – Paulista. “Existe um desconhecimento da população leiga e da população médica em relação às doenças da nossa especialidade. A investigação geralmente é conduzida de forma errada e temos poucos centros especializados com profissionais capacitados”, afirma.

O câncer de cabeça e pescoço é o nome dado para os tumores que se formam na cavidade oral, glândulas salivares, faringe, seios paranasais, cavidade nasal e laringe. O INCA também inclui os cânceres de tireoide e esôfago. O de hipofaringe é o que mais tende a ser diagnosticado tardiamente – aproximadamente 72% dos casos, além de ser, em conjunto com os cânceres de esôfago, um dos mais agressivos e com maiores taxas de mortalidade.

Cigarro, bebidas alcoólicas e HPV estão as principais causas

“Neoplasias do trato aerodigestivo superior (boca, laringe e faringe) são doenças muito graves com uma mortalidade alta e de rápida evolução. Os fatores de risco mais conhecidos são o tabagismo e o etilismo. Atualmente temos uma epidemia de tumores da orofaringe (parte da garganta logo atrás da boca, que inclui a base da língua, o palato mole, as amígdalas e a parte lateral e posterior da garganta) por HPV”, conta Dra. Simone.

Considerados os principais fatores de risco, o tabagismo e o etilismo são responsáveis por 70% dos casos e podem multiplicar em até 20 vezes a possibilidade de uma pessoa desenvolver o câncer. Outro fator importante é a infecção por HPV.

O HPV (papilomavírus humano) é o grande responsável pelos casos em jovens. De acordo com as estimativas, 54,6% das pessoas com 16 a 25 anos estão infectados com o vírus, sendo 38,4% com os subtipos relacionados a alguns tipos de câncer. Transmitido via sexo desprotegido, estima-se que 18,5% a 90% dos pacientes com câncer de orofaringe desenvolveram a doença a partir do HPV.

Câncer de Tireoide: prevalente entre mulheres e com mais chances de cura

Assim como a maioria dos cânceres, o diagnóstico precoce pode ser fundamental para uma cura ou aumento na sobrevida. No câncer de cabeça e pescoço não é diferente. No caso dos cânceres de laringe e boca, o diagnóstico precoce pode curar 90% dos casos. Esse número aumenta para 98%, quando se trata do câncer de tireoide

O câncer de tireoide, glândula localizada na região anterior baixa do pescoço tem como principais fatores de risco o histórico de exposição à radiação, histórico familiar e dietas pobres em iodo. Em 2020, o Brasil registrou mais de 13.500 casos novos de câncer da tireoide. É três vezes mais comum em mulheres do que nos homens e a faixa etária mais acometida fica entre os 20 e os 65 anos. O principal sintoma do câncer da tireoide é nódulo tireoideano em pacientes com histórico de exposição à radiação e histórico familiar para câncer da tireoide. Nódulos tireodeanos com crescimento acelerado também são suspeitos, bem como pacientes que apresentem concomitantemente, linfonodomegalia cervical (gânglios linfáticos aumentados no pescoço) e/ou rouquidão.

Por outro lado, esse tumor tem na maioria das vezes, crescimento indolente e baixa agressividade quando comparado aos outros tipos de câncer. Sua detecção acontece por meio do exame de ultrassom. “O exame mostra características de risco para malignidade de nódulos. Fazemos biópsia aspirativa e nos casos suspeitos, realizamos tratamento cirúrgico”, explica o Dr. Celso Friguglietti, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Santa Catarina – Paulista. Além das cirurgias, iodoterapia é outra forma de tratamento.

Sintomas

Para o diagnóstico precoce do câncer de cabeça e pescoço, é preciso estar atento aos sintomas! Os principais são:

– Aparecimento de nódulo no pescoço,

– Manchas brancas ou avermelhadas na boca,

– Dor de garganta que não melhora após 15 dias,

– Dificuldade ou dor para engolir,

– Ferida que não cicatriza

– Alterações na voz.

Saiba mais sobre os diagnósticos

Câncer da cavidade oral: O diagnóstico precoce pode ser feito com a oroscopia e o dentista está capacitado a fazer esse diagnóstico. Pacientes tabagistas e etilistas devem estar mais atentos. Lesões brancas ou avermelhadas da mucosa devem ser examinadas por um profissional capacitado a fazer o diagnóstico.

Tireoide: Todos os nódulos visíveis ou palpáveis devem ser avaliados por meio de exames de sangue e ultrassonografia.

Câncer da laringe: disfonia e rouquidão são os sintomas mais importantes e devem ser valorizados após 7 a 15 dias de início dos sintomas, principalmente em pacientes tabagistas e etilistas. O exame para o diagnóstico precoce é a laringoscopia direta e a nasofibrolaringoscopia.

Câncer da faringe: dor de garganta persistente, dificuldade em engolir alimentos, nódulos no pescoço e problemas respiratórios também podem ocorrer

Câncer de glândulas salivares: mais comum entre os homens de 50 a 60 anos. Tabaco e toxinas, como pó de serra e sílica, podem aumentar o risco do surgimento do tumor, que pode trazer sinais como nódulo ou inchaço no local, dor no rosto ou até mesmo dificuldades para abrir a boca.

Câncer Cavidade Nasal e Seios Paranasais: congestão nasal, infecções na região que não desaparecem com antibióticos, sangramento nasal e dores no local.

Hospital Santa Catarina – Paulista apoia o movimento “Julho Verde”

Desde 2014, o dia 27 de julho é a data escolhida para conscientizar sobre o câncer de cabeça e pescoço. Pouco tempo depois, o Brasil instituiu o Julho Verde como o mês da conscientização. E a partir de abril de 2022, o país oficialmente instituiu o Mês Nacional do Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço.

Este ano, com o propósito de conscientizar a população sobre a doença e seu tratamento, o Hospital Santa Catarina – Paulista está apoiando o movimento “Julho Verde”, conduzido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia e Pescoço. Durante o mês, o HSC iluminará sua fachada na cor verde e também divulgará conteúdos e entrevistas com especialistas do corpo clínico, com orientações e dicas de prevenção.